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Cultura Empreendedora

Artigo - A psicanálise para a liderança empresarial

Michelle Santos, gerente regional do Sebrae-SP no Vale do Ribeira Dentre as principais dificuldades enfrentadas pelos líderes, estão a habilidade do ser humano de lidar consigo mesmo; a dificuldade em conhecer e respeitar tanto qualidades quanto limitações; e reconhecer pontos que merecem melhorias.

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Dentre as principais dificuldades enfrentadas pelos líderes, estão a habilidade do ser humano de lidar consigo mesmo; a dificuldade em conhecer e respeitar tanto qualidades quanto limitações; e reconhecer pontos que merecem melhorias. Atualmente, as denominadas "soft skills" (competências comportamentais) são arduamente exigidas dos líderes, visando otimizar o potencial humano, principalmente diante do cenário em constante mudança, composto por diferentes gerações, novas tecnologias e posições de trabalho para o futuro.

Psicanalistas que exercem a função de liderança podem levar o manejo da clínica para a mesa de trabalho ao aplicar conceitos e técnicas psicanalíticas para melhorar a comunicação, a cooperação, os resultados e a gestão de conflitos entre os membros da equipe, bem como para promover o crescimento e a mudança pessoal dos indivíduos.

Os líderes se comprometem com inúmeras responsabilidades e expectativas, tanto de seus superiores no cumprimento de objetivos e metas, quanto de seus subordinados na assertividade das ações e comunicações diárias. Neste contexto, a importância de se relacionar de forma assertiva com o próximo, conhecendo o estilo comportamental de cada indivíduo, é um grande e apaixonante desafio.

Ao aplicar conceitos e técnicas psicanalíticas na liderança é possível criar um ambiente de trabalho mais saudável, produtivo e gratificante, onde os membros da equipe possam se desenvolver e alcançar seus objetivos pessoais e profissionais.

A teoria psicanalítica traz a importância do fato de que cada indivíduo traz em si, não só as características de suas gerações e experiências profissionais, mas também as marcas de suas histórias familiares, suas frustrações, inseguranças das primeiras experiências, inclusive aquelas que nem se lembram ou tem consciência, mas que determinaram suas crenças, valores, personalidade e jeito de ser.

O objetivo de inserir a abordagem psicanalítica na empresa é transformar todo o potencial cenário vulnerável em potencial criativo e produtivo no sentido de otimizar e valorizar as pessoas, de forma a beneficiar primordialmente o liderado, a cooperação e a empresa.

Dependendo da conexão entre propósito de vida e a missão corporativa, os líderes são pessoas que, com suas histórias e experiências, dão vida, singularidade e sentido a seus cargos. Quando não se reconhecem entre a pulsão e o desejo, seguem seus dias apenas afirmando seus títulos e posições.

É preciso gostar genuinamente. Presidentes, diretores, gerentes, assessores, coordenadores, supervisores, gestores, dentre outras nomenclaturas existentes, que olham as pessoas como únicas, com origens diversas, bagagens próprias de experiências, limites e emoções às vezes desconhecidas, que acreditam moralmente em suas diretrizes e têm clareza a respeito dos valores que defendem na vida, conseguem corresponder e influenciar sua equipe.

O autoconhecimento é um fator decisivo no direcionamento da equipe, pois quanto maior a consciência do líder sobre seus medos, dificuldades e inseguranças, menor será a chance de ativar seus mecanismos de defesa inconscientes e responsabilizar seus subordinados.

Para ajudar a entender e lidar com conflitos internos e a proteger o ego de ameaças e ansiedades no ambiente de trabalho, Sigmund Freud e Anna Freud aplicam conceitos e abordagens, que incluem vários mecanismos de defesa e alguns que podem melhor se relacionar a liderança, tais como:

Negação: mecanismo de defesa pelo qual o ego se recusa a aceitar a realidade de uma situação ou evento;

Projeção: mecanismo de defesa pelo qual o ego atribui a outra pessoa ou objeto seus próprios pensamentos, emoções ou impulsos inaceitáveis;

Deslocamento: mecanismo de defesa pelo qual o ego redireciona impulsos ou emoções de um objeto ou situação para outro objeto ou situação menos ameaçadora;

Racionalização: mecanismo de defesa pelo qual o ego justifica ou explica um comportamento ou pensamento inaceitável de uma maneira que parece racional ou aceitável;

Transferência: fenômeno importante na relação terapêutica e pode ser utilizado para ajudar os membros da equipe a lidar com seus sentimentos e desejos reprimidos, bem como para promover o crescimento e a mudança pessoal.

A transferência e contratransferência no local de trabalho têm um impacto direto nas interações entre equipes e gestores, pois os subordinados projetam em seus superiores sentimentos e emoções associados a figuras parentais, tais como confiança, afeto, aversão, inveja, necessidade de aprovação, entre outros. Isso pode afetar significativamente a dinâmica organizacional e a tomada de decisões.

O fenômeno da transferência tem um impacto significativo na dinâmica organizacional, podendo afetar a estrutura da equipe e levar o líder, se não estiver preparado, a ceder a pressões emocionais dos subordinados, assim como pais que não ocupam seus lugares cedendo às manifestações mimadas e chantagistas de seus filhos. O resultado, em ambas as situações, é desastroso e altamente destrutivo. A contratransferência, por sua vez, também desempenha um papel crucial nessas interações, influenciando a relação entre líderes e subordinados.

Muitas pessoas seguem com profundas dúvidas sobre o que realmente gostam de fazer, o que é necessário aprender agora ou a médio e longo prazo e o que o mercado ou as instituições desejam de nós. Tais anseios provocam inseguranças e desalinhamentos físicos, mentais, emocionais, espirituais e profissionais, afetando o clima organizacional, a saúde mental e o bem-estar dos indivíduos.

Considerando que o ambiente corporativo organicamente opera em níveis altos de pressão, quando observados os mecanismos de defesa (tanto do líder, quanto do liderado) ao reconhecer suas potenciais existências, vinculados e observados à luz da clínica psicanalítica, proporcionam exercícios relevantes para melhorar a experiência em feedbacks, ciclos avaliativos, gestão e monitoramento de resultados, planejamento e replanejamento de atividades, desenvolvimento de novas competências, entre outros momentos de convivência.

A psicanálise para a liderança é uma ferramenta importante para lembrarmos constantemente que não sabemos mais sobre o nosso liderado do que ele mesmo. A nossa influência acontece com atitudes, com exemplos, com sentido e respeito nas delegações e ao mesmo tempo nos proporcionam uma provocação constante em minimizar os sintomas de uma equipe estressada que não gosta do que faz, e maximizar um time de alta performance que valoriza e reconhece a empresa como ela merece.

Por Michelle Santos, gerente regional do Sebrae-SP no Vale do Ribeira

Fonte: Sebrae

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